A Pulmonale – Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão, assinalou, no ano de 2010, o Mês do Cancro do Pulmão. Novembro foi o mês escolhido por muitos países para, através das suas Associações de Luta Contra o Cancro do Pulmão, reforçarem o seu papel junto da sociedade e promoverem uma maior sensibilização. Em Portugal a Pulmonale assinalou a data com o lançamento de uma campanha contra o tabaco. “Deixa de Fumar. O céu pode esperar” foi o mote do projecto que visou sensibilizar os jovens. O Presidente da Pulmonale, António Araújo, faz aqui e agora um ponto de situação:
Que balanço faz da campanha “Deixa de fumar. O Céu pode esperar”?
A campanha conseguiu atingir todos os objectivos a que nos propusemos no seu início. Serviu para divulgar a Pulmonale, enquanto instituição de nível nacional, serviu para colocar as pessoas a pensar nas vantagens de não fumar e permitiu falar um pouco sobre o cancro do pulmão. Participaram nas acções de rua um grande número de pessoas, de norte a sul do país, e fomos vistos e ouvidos por um número ainda maior a nível nacional. Assim, o balanço só pode ser francamente positivo. Mas a campanha, em si, ainda não acabou. Depois de termos recolhido um grande número de cigarros, enviamo-los ao artista plástico João Leonardo, que vai criar uma escultura com este material que finalmente será leiloada, revertendo o produto para a Pulmonale. E, poderemos então considerar, que só nessa altura estará encerrada definitivamente esta campanha.
Como reagiram as pessoas à “provocação” de se cravarem cigarros, como forma de contacto e sensibilização?
Da melhor forma. Divertidamente, colaboraram com os nossos voluntários, dando cigarros não fumados. Sabiam que estavam a poupar na sua saúde, sabiam que era por uma causa nobre, pelo que o ambiente que foi vivido nesses dias foi de alegria e muita colaboração.
Julga que a campanha conseguiu atingir o público jovem?
Pelo menos tentamos. Este é um alvo que nós, declaradamente, assumimos como fundamental para todas as nossas iniciativas. Não temos nenhuma estatística que possamos mostrar mas acreditamos que os frutos do nosso trabalho vão-se sentir nos próximos tempos.
A causa antitabágica é uma guerra longa. Que outras batalhas vai travar a Pulmonale?
A Pulmonale pretende vir a desenvolver uma acção a longo prazo a nível escolar, quer no primeiro quer no segundo ciclos. No sentido da prevenção do consumo, pois sabemos que este inicia-se pelos 14 a 16 anos e quanto mais convencermos os jovens que fumar não é fixe menor será a tendência para o consumo. Iniciamos em Novembro, nas instalações do Instituto Português da Juventude do Porto e gratuitamente, as consultas de cessação tabágica especificamente para jovens. Vamos, a curto prazo, ter consultas de cessação tabágica para adultos. No fundo e resumindo, pretendemos apostar na prevenção com acções escolares e na facilitação da desabituação.
Espera efeitos imediatos das diversas acções realizadas?
Tal como frisei há pouco, não se pode esperar grandes resultados no imediato. Todas as nossas acções terão efeito a médio e longo prazo, pelo que só se irão reflectir em termos estatísticos nesse período temporal. Deixe-me só relembrar, por exemplo, que existe um espaço de tempo de cerca de 15 anos entre o consumo de tabaco e o aparecimento de cancro do pulmão. Assim, se diminuirmos o consumo de tabaco hoje só iremos ver reflectido esse facto na mortalidade por cancro do pulmão passado mais de uma década. Por outro lado, não é fácil mudar as mentalidades, particularmente dos jovens. Será preciso muito trabalho, acções concertadas a nível escolar e social, de forma a aumentar a noção de vida saudável, de vida sem tabaco.
A Pulmonale começa a ser considerada um parceiro na cruzada contra o cancro do pulmão?
De certeza que sim. Já começamos a ser conhecidos nesta área, temos uma parceria com o Instituto Português da Juventude para todos os aspectos relacionados com a prevenção e desabituação tabágica, estamos a ser convidados pelas escolas de todo o país para acções educativas, estamos a ser convidados pelos diversos fóruns nacionais que estão a ser organizados sobre esta temática. Pertencemos já a um organismo internacional que agrupa as organizações com esta finalidade a nível mundial, a Global Lung Cancer Coalition. Por tudo isto, podemos afirmar categoricamente que somos uma entidade actualmente reconhecida na luta contra o cancro do pulmão.
Quais são as próximas acções?
Vamos desenvolver um plano, primeiro a nível regional, de acções escolares sob a óptica da prevenção do consumo do tabaco. Pretendemos desenvolver as consultas de cessação tabágica, estabelecendo as dirigidas para os adultos. Queremos colocar no terreno as consultas de apoio aos doentes com cancro do pulmão e seus familiares, nomeadamente a nível de apoio psicológico, nutricional e de assistente social. Desejamos vir a ter apoio domiciliário, com a intervenção de enfermagem e de voluntários. Para isto, estamos a desenvolver os nossos esforços para conseguir uma viatura que nos permita chegar ás casas de quem sofre desta doença e precisa de apoio.