Atualidade do cancro do pulmão

Cancro do pulmão será o mais mortal entre as mulheres europeias

O cancro da mama tem sido a maior causa de morte de mulheres desde que há registos na Europa. Até agora. A taxa de mortalidade por cancro do pulmão (medida em mortes por 100 000 habitantes) ultrapassará este ano, pela primeira vez, a dos tumores da mama, segundo projecções publicadas na revista Annals of Oncology com base em dados recolhidos nos 28 países da UE.

"É muito impressionante que, após 30 ou 40 anos a repetir que o cancro da mama estava em primeiro lugar, o cancro do pulmão esteja agora em primeiro lugar", afirma Josep Maria Borràs, coordenador científico da Estratégia Nacional para o Cancro. "Teremos de mudar o discurso. O efeito psicológico é notável: dá-nos uma nova prioridade", acrescenta.

O estudo, realizado por investigadores das Universidades de Milão e de Lausana, mostra que este será o ano em que se cruzarão as curvas de mortalidade do cancro da mama e do cancro do pulmão, que apresentam tendências opostas. O primeiro está numa trajetória descendente devido a melhorias terapêuticas - especialmente tratamentos personalizados - bem como a programas de rastreio através da mamografia. A segunda, a curva de letalidade por neoplasias do pulmão, está a crescer devido ao aumento do número de fumadores.

Como explica Borràs, entre o início do consumo de tabaco (epidemia de consumo) e o aparecimento de tumores do pulmão (epidemia de mortalidade) decorrem normalmente 20 a 30 anos entre o início do consumo de tabaco (epidemia de consumo) e o aparecimento de tumores do pulmão (epidemia de mortalidade). A atual curva ascendente é o reflexo da incorporação das mulheres neste hábito durante as últimas décadas na Europa e das suas consequências para a saúde. Estão a surgir novos diagnósticos e, com eles, a mortalidade está a aumentar, uma vez que, ao contrário do que acontece com o cancro da mama, em que as taxas de sobrevivência rondam os 90%, no caso do cancro não ultrapassam os 10% ou 15% ao fim de cinco anos.

O artigo estima que a taxa de mortalidade feminina por cancro do pulmão aumentará 9% entre 2009 e 2015, enquanto que no caso do cancro da mama diminuirá 10,2%. Este ano, a taxa de mulheres que morrem de tumores do pulmão será de 14,24 mulheres por 100 000, contra 14,22 no caso do cancro da mama. A diferença é ligeira, mas a inércia é muito forte em ambos os casos, e irá acentuar-se nos próximos anos.

Nos Estados Unidos e em alguns países nórdicos europeus, o cancro do pulmão era já o cancro que mais matava as mulheres. Na Europa, embora este fenómeno se verifique este ano, existem diferenças notáveis entre os países, que têm a ver com a altura em que as mulheres começaram a fumar de forma generalizada.

O estudo destaca o caso da Grã-Bretanha, com taxas de 21 mortes por cancro do pulmão por 100.000 habitantes, em comparação com 8 em Espanha e 14,24 para a média europeia. "Isto deve-se ao facto de as mulheres britânicas terem começado a fumar durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto na maioria dos outros países da UE começaram a fumar depois de 1968", afirma um dos autores do estudo, Carlo La Vecchia, professor de medicina na Universidade de Milão.

O artigo alerta para a situação em Espanha, onde se prevê que o número de mortes aumente nos próximos anos, devido à incorporação tardia das mulheres no consumo de tabaco. Esta situação não é nada parecida com o que se passa noutros países, como a Suécia, onde o pico da epidemia tabágica feminina já foi atingido há muito tempo e as mortes estão a diminuir.

No caso dos homens, o estudo mostra que, em 1990, foram atingidas as taxas de mortalidade por cancro do pulmão mais elevadas da Europa, com mais de 50 mortes por 100 000 habitantes. Desde então, a curva tem sido descendente, para menos de 35 mortes, graças ao êxito das medidas anti-tabaco.

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