Especialistas em diversas áreas reuniram-se, nos dias 16 e 17 de Novembro de 2012, no auditório da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, em torno do tema «Pelo Doente com Cancro do Pulmão», no 1º Congresso da Pulmonale.
Em dia e meio de trabalhos muitas foram as comunicações que trouxeram à liça questões, problemáticas e situações que, a montante e a jusante, influenciam directamente a pessoa que sofre de cancro do pulmão. “Trabalho em oncologia há 25 anos e há 12 no cancro do pulmão e hoje aprendi muito sobre o doente”, disse no final do primeiro dia de Congresso o seu grande impulsionador e presidente e fundador da Pulmonale António Araújo, que reconheceu, de seguida, perante uma plateia composta essencialmente por profissionais de Saúde: “Costumamos falar muito da doença e não tanto do doente”.
Mas foi sobre os pacientes que se falou no dia e meio de trabalhos na Católica. Sendo a Pulmonale uma instituição de doentes, cujo lema é «pelo e para o doente com cancro do pulmão», o seu primeiro congresso funcionou como um foco sobre o doente e toda a sua envolvente.
Como que seguindo cronologicamente o trajecto que a pessoa a quem é diagnosticado um cancro do pulmão percorre, os trabalhos começaram por abordar causas («O Tabagismo em Portugal»), prosseguiram com a doença («O Doente com Cancro do Pulmão»), os tratamento e recuperação («A Reabilitação do Doente com Cancro do Pulmão») e o papel de quem está ao lado do doente («O Cuidador do Doente com Cancro do Pulmão»), terminando com o papel da sociedade civil no apoio a este tipo de pacientes («A Importância das Estruturas de Apoio ao Doente com Cancro do Pulmão»).
O Tabagismo em Portugal
No primeiro painel do Congresso discutiu-se a principal causa do cancro do pulmão, o tabaco, e as melhores formas de combater o seu consumo. Aliás, não foi por acaso que o Congresso coincidiu com o Dia Mundial do Não Fumador (17 de Novembro)… Sérgio Vinagre, da ARS Norte, falou sobre o Plano
Nacional para a Prevenção e Controlo do Tabagismo e recordou que os números são preocupantes e que “os jovens começam a fumar muito cedo”, sublinhando que “a prevenção é fundamental”.
“Estamos perante uma pandemia que, como qualquer epidemia, só será erradicada com a mudança de comportamentos”, argumentou, asseverando que o Estado vai continuar a agir em defesa do “direito de respirar ar livre de fumo de tabaco”.
Agostinho Costa, da Direcção da Pulmonale, abordou a doença, frisando que “cada doente é único” e alertando para as diferentes visões da doença aos olhos do doente e do médico, “a importância do envolvimento do paciente e dos familiares no processo” e que “o tempo tem que ser visto sobre três perspectivas: “O tempo do tumor, o tempo do médico e o tempo do doente”.Por seu turno, a médica Lurdes Barradas levou ao Congresso a experiência do IPO Coimbra, onde exerce funções, no tocante à Consulta de Cessação Tabágica, defendendo que “o tabagismo é uma doença e os doentes precisam de apoio”. Já Pedro Esquível, administrador da Efacec, abordou a questão da Empresa Sem Tabaco, indicando que o caminho passa por “criar ambientes agradáveis sem fumo e ambientes de fumo desagradáveis”.
O Doente com Cancro do Pulmão
Sob a presidência de Fernando Barata, presidente do Grupo de Estudos do Cancro do Pulmão, Agostinho Agostinho Costa sublinhou ainda que “informar e ouvir o doente é muito importante”.
Já Eduardo Carqueja abordou a temática do Apoio Psicológico, começando por referir que “conhecer como cada doente vive a doença é fundamental”. O representante da Ordem dos Psicólogos sustentou ainda que, ao contrário do que se diz, “os médicos não lidam com a morte mas com a vida”, constatando: “Os doentes vivem… até que morrem!”. Para o psicólogo, “os doentes não precisam de mais sofrimento do que o sofrimento que já carregam”, pelo que o apoio psicológico é muito importante.
Sob outro prisma, Helena Isabel Fernandes, do Instituto da Segurança Social (ISS), também aflorou a questão dos apoios ao doente, mas do ponto de vista institucional e financeiro. A representante do ISS elencou uma lista de apoios sociais, cuja variedade foi uma novidade para os congressistas.
A Reabilitação do Doente com Cancro do Pulmão
Na derradeira mesa redonda do primeiro dia, moderada por José Manuel Castro, do IEFP e da Faculdade
de Psicologia da Universidade do Porto, Jerónimo Sousa, presidente do Centro de Reabilitação Profissional de Gaia, abordou a questão da recuperação para o trabalho de quem sofre, pontual ou permanentemente, de incapacidade(s).
“A precocidade das intervenções aumenta a eficácia da reabilitação”, defendeu, depois de retratar o trabalho da instituição que dirige, realçando que “as pessoas com cancro são pessoas que vivem com cancro”, logo há que as munir de condições para que prossigam as suas vidas.
Renato Martins, do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro, tinha como tema a Reabilitação Psicológica e começou por afirmar que “qualquer patologia oncológica produz um impacto psicológico muito grande”, em que
prevalecem, entre outras, “as perturbações depressivas e as de ansiedade”, revelando ainda que “os índices de sofrimento psicológico dos doentes com cancro do pulmão é de 61,6 %, muito acima dos demais doentes oncológicos”. De seguida, o médico enumerou uma série de questões que devem ser observados, concluindo que a relação médico-doente é determinante no sucesso da adesão terapêutica, da redução das somatizações e da medicação e na melhoria da qualidade de vida do doente, entre outras.
Como que a olhar o doente a partir de um circuito de manutenção, António Ascenção, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, abordou a Reabilitação Funcional, deixando uma mensagem muito directa: “A prática de exercício físico é segura antes e durante o tratamento”.
O Cuidador do Doente com Cancro do Pulmão
No segundo dia de trabalhos, o Congresso foi palco de diversas prelecções sobre quem serve de rectaguarda ao doente, com a primeira mesa redonda a ter moderação de Isabel Magalhães, dos corpos dirigentes Pulmonale.
Ana Ideias, do Departamento de Recursos Humanos do Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga, partilhou com os presentes a “legislação que protege e dá possibilidade ao cuidador de manter o seu posto de trabalho”, baseando a sua comunicação na experiência da sua instituição.
Num âmbito diferente, Alexandra Fonseca, do Serviço de Psiquiatria e de Radioterapia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, o apoio psicológico ao cuidador do doente, defendendo que, nas intervenções psicoterapeutas, haja “um acompanhamento individual ao cuidador”, alargado igualmente à família, recordando que “a avaliação das necessidades familiares deve ser contínua dado que estas se alteram com a evolução da doença”.
A Importância das Estruturas de Apoio ao Doente
A fechar o 1.º Congresso da Pulmonale, e depois de ter sido abordado o cuidador, foi tempo de se falar do papel das instituições da sociedade civil fundamentais no apoio a quem sofre de cancro do pulmão e seus familiares.
Neste painel, moderado por António Araújo, presidente da Pulmonale, os palestrantes deram a conhecer, genericamente, as estruturas que representavam. Vítor Veloso, presidente do Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro, historiou a vasta acção do organismo que lidera, “o maior e mais activo do País” – referiu –, dando a conhecer as iniciativas em curso.
Jorge Freitas, da Associação de Enfermagem Oncológica Portuguesa, deu a conhecer a instituição de que é vice-presidente, na qual o sítio na internet tem sido um meio de comunicação com quem quer saber mais sobre a problemática oncológica.
Por seu lado, Rui Pedroto, administrador executivo da Fundação Manuel António da Mota, afirmou que o papel da sociedade civil é o de “intervir onde a resposta pública ou privada, como a das instituições sociais, não existe”, justificando assim a acção do organismo que dirige na área da Saúde.
“A sociedade civil tem que ser cada vez mais activa e proactiva”, defendeu Rui Pedroto, o que, pouco depois, foi complementado por Maria José Gamboa, em representação da CNIS – Confederação nacional das Instituições de Solidariedade, que disse: “O papel das instituições sociais é o de criar uma sociedade de cuidados”. “O que mais nos mobiliza e nos assusta, ao mesmo tempo, é o combate ao sofrimento e é o que andamos a fazer nas IPSS”, defendeu a dirigente da CNIS, que sugeriu mesmo que ao lema da Pulmonale fosse acrescentado: “Pelo, para e com o doente com cancro do pulmão”.
O presidente da Pulmonale, António Aaraújo, destacou ainda a “inexcedível colaboração da dr.ª Isabel Magalhães e do Prof. Dr. José Manuel Castro na concepção, realização e participação do I Congresso da Associação”.
A instituição do mês de Novembro como o Mês do Cancro do Pulmão e o lançamento da campanha “Fumar fica-te a matar” são as duas mais recentes acções da Pulmonale, que promete voltar a reunir em Congresso para que o doente com cancro do pulmão tenha os melhores cuidados.