Atualidade do cancro do pulmão

Investigadores revelam mecanismo celular que limita desenvolvimento de tumores

Uma equipa de investigadores do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) identificou um novo mecanismo que permite às células saudáveis limitarem o desenvolvimento de tumores, uma descoberta que pode abrir portas a novas terapêuticas contra o cancro. No desenvolvimento de cancros, as células passam por alterações que incluem modificações da sua arquitectura e maior capacidade de se dividirem, sobreviverem e invadirem novos tecidos, formando metástases.

Para o desenvolvimento destes tumores, contribui grandemente a actividade de proteínas que são codificadas por uma classe de genes designada oncogenes. Um desses oncogenes é o Src, que foi o primeiro a ser descoberto como sendo capaz de induzir o cancro e é responsável por um grande número de tumores humanos. Mas apesar de ter sido descoberto há mais de 50 anos, ainda não era claro para os investigadores a forma como as células saudáveis conseguem travar a atividade deste oncogene, prevenindo que se tornem malignas.

No entanto, a equipa de investigadores de Florence Janody conseguiu agora identificar um novo mecanismo pelo qual a actividade de Src é travada pelo esqueleto da célula (o citoesqueleto), uma descoberta publicada na última edição da revista Oncogene, revela o IGC.

Usando como modelo a mosca da fruta (Drosophila melanogaster), esta equipa de investigadores conseguiu travar o desenvolvimento de tumores induzido pela atividade de Src, através da manipulação genética do citoesqueleto. Um dos principais componentes do citoesqueleto, a actina, forma uma espécie de cabos que constituem uma rede por onde as moléculas se movimentam dentro da célula.

De acordo com as explicações dos investigadores, estes cabos estão em constante afinação: as suas extremidades crescem e encolhem por adição ou remoção de componentes através da acção de proteínas, as actin-capping, que vão regulando este processo. O que o grupo de Florence Janody fez foi mostrar que o desenvolvimento de tumores é travado na presença de elevados níveis do “afinador” actin capping protein. Este “afinador” restringe a atuação de proteínas que são normalmente activadas por elevados níveis de Src.

Apesar de o mecanismo molecular preciso ainda não ser conhecido, a hipótese levantada pelos cientistas é de que o “afinador” cria uma tensão nos cabos do citoesqueleto que impede a acção destas proteínas. Pelo contrário, quando os níveis de “actin capping protein” estão diminuídos, a actividade do oncogene Src é aumentada, já que as proteínas activadas conseguem libertar-se do efeito bloqueador da rede do citoesqueleto e actuar na célula, resultando no desenvolvimento de tumores. “É como se o citoesqueleto funcionasse como uma rede de “arame farpado”. O vencedor da competição entre as moléculas do citosqueleto e o oncogene Src, que luta contra o “arame farpado”, irá determinar se a célula se manterá saudável ou se tornará cancerígena”, explica Florence Janody.

Beatriz García Fernández e Barbara Jezowska, as primeiras autoras do trabalho, acrescentam que o trabalho desenvolvido neste estudo “sugere que o aparecimento de mutações em moléculas que regulam o citosqueleto pode ter um papel significativo na indução do desenvolvimento do cancro, durante os primeiros estádios da doença, por permitirem a libertação da atividade destes oncogenes”.

Este estudo foi desenvolvido no IGC e foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

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