A rede Médicos-Sentinela anunciou que vai aprofundar estudos indiciadores de ineficácia das campanhas de cessaçäo tabágica dirigidas às grávidas. O que se sabe, para já, a partir de um pequeno estudo realizado em 2007 e 2008, sem robustez para uma extrapolaçäo fidedigna, é que 10,2 por cento das grávidas com antecedentes tabágicos continuaram a fumar durante a gestação. Em média, cada uma dessas mulheres grávidas fumou seis cigarros por dia.
O estudo, apresentando no Porto durante a reuniäo anual da rede Médicos-Sentinela, incidiu sobre 344 grávidas, das quais 22,7 por cento tinham o vício do cigarro. Das grávidas abordadas no âmbito deste trabalho, 12 por cento desconhecia que inalar o fumo do cigarro alheio prejudica o feto e 0,6 por cento pensava mesmo que podia fumar à vontade sem efeitos nefastos para a criança em gestaçäo. “Quer isto dizer que as campanhas de prevençäo do tabagismo nas grávidas não têm tido sucesso”, concluiu Elisabete Serrada, a médica que apresentou o estudo coordenado pelo seu colega Fernando Ferreira.
Ainda que a lei do tabaco tenha entrado em vigor exatamente a meio do período de realização do estudo, foi impossível medir a influência direta do novo quadro legislativo na postura da grávida fumadora, referiu a fonte. “Tendo em conta que o número de grávidas nesse período era muito pequenino, não há evidência estatística significativa que pudesse permitir uma conclusão fidedigna”, justificou.
Também durante a reuniäo anual da rede Médicos-Sentinela, foi apresentado outro estudo, igualmente com amostragem reduzida, sobre o aborto em 2010 e nos anos precedentes. As conclusões secundam dados do registo oficial das interrupçöes voluntárias de gravidez, no sentido em os abortos tiveram em 2010 uma taxa de incidência de 352,2 por 100 mil mulheres, maior do que em 2009 (329,6 por 100 mil) e do que 2008 (331 por 100 mil). A amostra permitiu confirmar ainda que as mulheres que recorrem ao aborto são, maioritariamente, da faixa entre 25 e os 34 anos, quando entre 2007 e 2009 eram do grupo etário entre os 15 e os 24 anos.
Em 2010, as interrupçöes voluntárias de gravidez ocorreram nos estabelecimentos de saúde pública em 91,3 por cento dos casos, dados similares a 2009 (93,3%). O recurso ao Serviço Nacional de Saúde tinha sido menor em 2008 (79,4%) e ainda mais reduzido em 2007 (48,7%), o ano em que entrou em vigor a nova lei da interrupção voluntária da gravidez.
As questões colocadas no âmbito deste estudo näo permitem perceber o número de abortos eventualmente concretizados à margem da lei, que impede a prática após 10 semanas de gestaçäo, explicou a autora do trabalho, a médica Maria Elvira Pinto.