Atualidade do cancro do pulmão

TIVE CÂNCRO DO PULMÃO – Depoimento Na Primeira Pessoa

O texto abaixo foi-nos enviado por um dos leitores da nossa página. Diagnosticado com Cancro do Pulmão em 2017, Leopoldino Flores, de Mafra, conta-nos a sua história e como foi conviver diariamente com a doença.

Assumir publicamente hoje, perante a sociedade em geral, ou mesmo em âmbito mais restrito, que se é doente oncológico, ou simplesmente, TENHO CÂNCRO, ainda não é fácil, e ainda pode ser de algum modo estigmatizante. Conseguir ultrapassar essa dificuldade pode ser um pequeno passo contributivo para encararmos a cura como possível.

Com o testemunho do meu caso, apenas pretendo contribuir modestamente para ajudar as pessoas que lutam todos os dias para ultrapassar a doença. Não é fácil, diz-me a experiência vivida.

Quando em Julho/17 me foi diagnosticado um tumor maligno do pulmão, depois de TAC’s, PET, Biópsias, e mais outros exames complementares, foi como receber um murro no estômago, quase sempre sem aviso prévio. Como diz o povo, o estômago fica cheio de borboletas, e a cabeça cheia de pirolitos…

A transferência do HUSMaria para o HPValente, para onde transitou todo o processo clínico, incluindo a necessária operação, levou-me a assumir que tinha que fazer parte da solução, e não vendo apenas o problema grave. Tinha uma doença, que tinha um nome, e que precisava de ser tratada, passando naturalmente pelo Bloco Operatório. Acredito que o facto de ser uma unidade hospital mais pequena, foi uma pequena vantagem.

Para essa postura muito contribuiu o corpo clínico – o “meu” médico Dr. Direndra, que ainda hoje me acompanha, e o cirurgião Dr. Samuel Mendes que me aturou a solicitar brevidade na operação, e que finalmente com a sua ciência, e de bisturi com precisão, em equipa com o dr. Daniel, me tirou metade do pulmão esquerdo em 14/11/17  (já cresceu  quase  por igual) – e naturalmente todo o staff de enfermagem para os quais esgotei todos os adjetivos para gratificar o seu trabalho e dedicação. A comunicação, franca, direta, profissional, mas também humana, do corpo clínico, foi a confirmação de que estava no sítio certo.

Estes profissionais de saúde fazem hoje parte da minha família, pelos quais tenho um carinho e gratidão muito especiais.

Consegui no meio hospitalar (e um à parte para elogiar o extraordinário Hospital Pulido Valente, que vale 5 estrelas, por todos os profissionais, dos melhores, que dão o seu melhor),  ser considerado um doente bem disposto, pese embora as 24 sessões de quimioterapia e imunoterapia ( total de 24 ), com participação em estudo clínico, ainda vigente.

Hoje, o dr. Direndra  diz-me que sou um doente com sorte. Só posso retribuir-lhe o elogio com o reconhecimento de que a minha sorte começou com o acreditar que estava em boas mãos.

Todo o doente tem de acreditar no seu médico e nos seus enfermeiros. O doente oncológico, ainda mais, porque está mais fragilizado, dependente e angustiado.

Diz-me a experiência vivida, e continuada, que o apoio da família e dos amigos é um bálsamo para as dores e para a alma. Sobre a família, é o que se espera do que se tem de mais valioso.

Sobre os amigos, preocupei-me em envolvê-los pela positiva no meu problema, dando-lhes notícias das minhas pequenas vitórias, nada escondendo e não esperando compaixão, mas incentivo para ir em frente. E é muito gratificante receber o retorno, e saber que os amigos estão lá, estão comigo, e gostam que seja eu a dizer-lhes como estou, como recupero e como acredito que,  “ hoje foi melhor que ontem, e amanhã será melhor do que hoje”.

Aprendi também a relativizar as coisas, valorizando mais o lado humano e as coisas simples da vida, e aquilo que é realmente importante, provavelmente mais tolerante com os outros. Estive à beira do abismo, não caí, e isso é muito importante

Fiquei mais frágil, mais emotivo, mesmo mais “piegas”, mas isso não me diminui em nada, e prova apenas que passei por um estreito túnel da vida, e consegui sair do outro lado com esperança  renovada, e acreditar no amanhã, graças aos que estiveram comigo e me apoiaram.

Hoje, com 75 anos e 4 de luta superada, sem fundamentalismos e sem me culpabilizar, qual mártir pecador porque fumei, ainda que tenha parado totalmente em 2011, e antes o fizesse com bastante moderação, (estava no estadio 2), repudÍo o tabagismo, e creio que muito mais se poderia fazer na prevenção junto dos jovens iniciados. O tempo de publicidade proibida, e bem, podiam ser substituídos por campanhas de “NÃO FUME PELA SUA SAÚDE”.

Desejo sinceramente que este depoimento, vivido e na primeira pessoa, sirva para alguma coisa, e aos mais jovens digo, POR FAVOR NÃO FUMEM!.

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